Discussão: Funcionalidade, flexibilidade e polivalência; Forma e usuários: o espaço da forma; Criando espaço, deixando espaço;

 Cartilha Hertzberger 

Funcionalidade, flexibilidade e polivalência; Forma e usuários: o espaço da forma; Criando espaço, deixando espaço; 


A discussão do grupo 4, que trata dos capítulos 6, 7 e 8 da parte B do livro, se inicia com a identificação de um conceito paradoxal na obra de Hertzberger, a funcionalidade e a flexibilidade relacionadas com a polivalência. Como apontado, o espaço deve ter mais de uma função, contudo muitas possibilidades pode ser uma característica prejudicial, portanto o ideal seria que não se fechassem todas as portas, mas também que não as abrissem em sua totalidade. A responsabilidade de direcionar a função é do arquiteto, então cabe a ele também procurar o equilíbrio e não limitar o espaço. Um exemplo do livro citado são as colunas em frente à escola, inicialmente seu uso seria direcionado para a iluminação, porém na prática exercem papel de bancos, superfícies de trabalho ou mesas. 

                          

Pode-se dizer então, que as colunas foram feitas não para sentar, mas também para sentar. Assim vemos como um espaço ou objeto tem uma função designada e ao mesmo tempo, mantém sua flexibilidade. Por vezes, a polivalência ocorre de maneira não intencional, o que torna esse acontecimento possível são os diferentes referenciais pessoais dos usuários, que interpretam a função dos ambientes de acordo com suas vivências próprias. Como tais interpretações podem diferir bastante, é importante salientar a necessidade que o arquiteto tem de procurar manter a identidade dos espaços.  

O livro Lições de Arquitetura apresenta uma situação em que há uma falta dessa definição da identidade. No espaço mostrado o excesso de possibilidades e decisões resulta na dificuldade de pensar e comparar as opções, tornando mais difícil para o usuário o processo de adaptar seu ambiente. 

  

 

Outro ponto citado na discussão foi a relação do espaço com o usuário e como sua experiência interfere. De certa forma, o uso cria a identidade do ambiente, então a participação do usuário é ativa nesse processo. A partir desse ponto é possível pensar também no método mais apropriado de pesquisa para um arquiteto. A observação seria uma questão chave, assim como a empatia, exercício de se colocar no lugar do outro e entender suas demandas. Um exemplo em que o equilíbrio discutido foi atingido é a escola Montessori em Delft.  

 

 

Nas imagens, vemos as mesas e banquinhos, objetos que se aplicam a um outro conceito apresentado por Hertzberger, o de deixar criar espaço. A possibilidade de mover e mudar os objetos traz a liberdade de modificar a configuração do ambiente de acordo com o usuário, contudo continua sendo uma liberdade pensada, visto que a limitação para funções definidas daquele espaço permanece. Exemplificando, afirma-se que a estrutura é do arquiteto, mas a criação do resto cabe aos usuários. 

Ainda no debate sobre diversas interpretações de um espaço, os envolvidos na discussão encontraram uma relação das análises de Hertzberger com um conceito de Flusser, a necessidade de manter a flexibilidade e a abertura para leituras novas e diferentes para que um espaço sobreviva ao tempo. Como mencionado na obra, um espaço destinado a uma garagem pode possuir mais de uma possibilidade, então mesmo se não receber carros não se torna inútil. É essencial que um espaço seja flexível o suficiente para não se perder em desuso.  

                                                

Concluindo, o grupo disserta sobre a relação entre os capítulos selecionados, e afirma-se que a polivalência pode existir como uma consequência da flexibilidade, uma vez que quanto mais abertas as possibilidades mais os usuários as explorarão. Porém, a limitação trazida pela funcionalidade também é essencial para que o equilíbrio de um espaço seja alcançado, ou seja, os três pontos abordados, juntos, são conceitos fundamentais. Ao fim da discussão trazem exemplos da vida cotidiana, como escolas montessorianas, que são ambientes de criação e modificação do espaço a todo momento ou calçadas que podem ser usadas como bancos, demonstrando sua polivalência. Além dessas situações, lembram do exercício realizado para a disciplina de AIA, a elaboração de um objeto espaço-vestível-dialógico, que mostra a possibilidade de mudança da funcionalidade, assim como a criatividade e diferentes visões de usuário em relação a um mesmo comando. 

Comentários

Postagens mais visitadas