A análise a seguir se trata do local onde moro, do meu quarto até minha rua, e sua relação com os conceitos introduzidos por Herman Hertzberger em sua obra Lições de Arquitetura (1991).
Na primeira parte do livro, Hertzberger trata da definição de público e privado, para o autor essa rotulação de um espaço depende inteiramente do referencial. Um cômodo pode ser considerado privado sob uma determinada perspectiva e ainda assim ser tido como público em uma comparação diferente. Exemplificando com espaços da minha casa, temos o "escritório", esse quarto é utilizado como uma área de trabalho e home office pelo meu pai, mas durante alguns períodos do dia assume a função de academia para mim. É um espaço pequeno mas bem aproveitado, com uma escrivaninha, computador e todos os materiais de escritório de um lado e do outro uma esteira e equipamentos para exercícios físicos guardados.
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Imagem do escritório |
Por ser utilizado por dois dos moradores da casa pode ser considerado público, principalmente se comparado com o meu quarto, que é frequentado apenas por mim e guarda apenas coisas minhas, além de ter sido inteiramente planejado para meu uso pessoal. Contudo, se colocado em comparação com a cozinha ou a sala de estar, espaços de convivência e uso de toda a família diariamente, passa a ser um espaço privado, visto que as outras pessoas não tem o mesmo acesso e necessidade que eu e meu pai temos desse cômodo específico.
Ainda sobre relações de espaço e privacidade, o autor aborda demarcações de territórios e suas divisões. Observando como isso funciona, na minha casa podemos destacar o corredor do prédio, ou como chamamos o "hall do meu apartamento". No prédio em que moro só existe um apartamento por andar, então ao mesmo tempo em que esse espaço é quase exclusivo para quem visita minha casa, qualquer pessoa que entra no elevador poderia frequentá-lo da mesma maneira. Ele existe como um intervalo entre as demarcações de espaço, fora da porta do meu apartamento, que no caso seria o privado, mas também fora do elevador, o público. De certa forma pode ser considerado uma extensão da minha casa, que é decorado e controlado por mim e meus familiares, mas a possibilidade de pessoas de fora o acessarem restringe essa ideia, reforçando o conceito de um espaço indefinido, no meio do caminho.
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Hall do apartamento |
Outro exemplo em que a falta de privacidade se torna uma questão é a presença de uma cortina de vidro na janela da sala de estar. Hertzberger fala sobre trazer o exterior para dentro e "ambientes compartilhados", nessa situação a janela tão exposta, especialmente se considerado que (ainda) não temos cortinas de pano instaladas, trazem uma visão panorâmica do que acontece do lado de fora. Abrir essa conexão entre os espaços para quem está dentro acaba consequentemente abrindo para quem está do exterior também, apresentando assim o problema: um espaço se torna público sem necessariamente ter essa intenção. |
Cortina de vidro |
Hertzberger também traz para o livro uma discussão sobre flexibilidade e funcionalidade dos espaços. A cozinha do meu apartamento ainda passará por uma reforma, os eletrodomésticos e armários hoje em dia ocupam uma posição que não favorece seu tamanho, e diminui o que já é pequeno, portanto o plano da obra é mudar esses elementos de lugar. A flexibilidade de transformar um cômodo apenas trocando e movendo itens é demonstrada pela sensação de estar em um espaço completamente diferente sem ter que modificá-lo em si. A adaptação do ambiente para a função desejada, se tornar um cômodo com mais espaço livre e assim mais confortável, é uma das maneiras como os espaços e sua forma podem seguir o que determinamos para eles.
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Cozinha "antes" da reforma |
Um conceito interessante e muito comum de diversos jeitos apresentado pelo autor é o de polivalência. Em casa, na mesma cozinha mostrada anteriormente, temos uma espécie de mureta, que é na maior parte do seu tempo utilizada como lar para as plantas e flores da minha mãe. Porém, em dias cheios na cozinha pode servir de apoio para panelas, coisas retiradas da geladeira por um momento rápido, copos, e etc. Pode também servir para pendurar panos de prato para secar ou então colocar objetos que não queremos que o cachorro alcance. E ainda, pode ser usada como sustentação para o celular de quem está lavando a louça escutando música! Demonstrando assim a multifuncionalidade que um espaço pode assumir, e apresentando um objeto que tem mais de um emprego, além daquele que foi premeditado para exercer.
Saindo do ambiente discutido ao longo dessa análise, meu apartamento, seus cômodos, o hall, finalmente chegamos a rua do meu prédio. Hertzberger apresenta a rua como uma sala de estar comunitária, um espaço de convivência e troca entre vizinhos. No caso da minha rua, esse conceito nem sequer existe, uma vez que por ser uma rua com trânsito muito intenso em todos os momentos, não deixa espaço para que as pessoas parem e disfrutem de qualquer momento de lazer nela. Sua utilização se limita a passagem dos carros e pedestres, que não são encorajados a fazer mais do que atravessar para outro destino, visto que a rua não é convidativa para atividades diferentes.
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Imagem da minha rua |
Trabalho bem feito, sua análise da casa foi clara, demonstrando que conhece e entende o tema e que leu o livro, porém sentimos falta de uma análise maior do quarto, ponto principal do exercício. Gostaríamos também que tivesse aprofundado mais nos conceitos do Hertzberger. (Jade, Maria Luiza e Ana Julia).
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