Inserção no texto "Animação Cultural" de Flusser

"No fundo, a nossa Revolução não passa de inversão da relação "homem-objeto". Em vez de funcionarmos em função da humanidade, esta passa a comportar-se em função do nosso próprio funcionamento. Passamos nós a ser os animadores da humanidade. É em função de mesas, tijolos, lâmpadas elétricas e aparelhos de TV que a humanidade vive, isto é: é em função de nós, os objetos, que a humanidade é animada. A nossa função, os objetos, é  animar a humanidade, programá-la. Se tivermos plenamente nos conscientizado dessa nossa função, fundamentalmente filantrópica, teremos levado a nossa Revolução até a sua gloriosa meta. "Animação cultural" é pois nosso brado de guerra revolucionária vitoriosa.

Permitam, caros, camaradas, que resuma esta minha palestra introdutória à discussão dos Direitos Objetivos nos seguintes termos: Nós, os objetos, que constituímos a cultura, temos o Direito, inscrito no nosso estar-no-mundo, de animar a humanidade para que esta funcione em função dos nossos jogos, e destarte alcance a felicidade. A animação cultural é o Supremo Direito Objetivo. O governo que estamos prestes a estabelecer terá por Dever garantir esse Direito Supremo. E todos os demais direitos objetivos decorrerão, automaticamente, de tal fonte."

  -Abro então, um espaço para que vocês meus caros façam suas devidas considerações quanto nossa pauta de hoje.

  -Peço licença, camarada mesa, para ressaltar o quão urgente deve ser a nossa Revolução! Além de nos tratarem como submissos e inferiores, a humanidade a cada dia mais nos faz de descartáveis. A cultura do desperdício não é só maléfica para os homens, mas um verdadeiro genocídio para nós, um absurdo descabido de fato. Eu, batom, conheço bem sobre essa tendência irresponsável e cruel de nos substituir a todo o tempo, vi colegas utensílios de maquiagem sendo jogados fora ou largados de lado por nada! Nunca tinha presenciado tamanho descaso...

Precisamos que eles entendam que somos tão importantes para eles quanto eles para nós, e exigimos nosso devido valor. Onde a humanidade estaria sem todos os objetos? Que os deixemos na mão até que nos respeitem! Não aceitarei mais ser colocado de escanteio por puro capricho, quanto egoísmo. Os homens não pensam em quem mais os ajuda, muito menos no meio ambiente, de certa forma nem neles mesmos.

-Com certeza batom, a ingratidão e a inconsequência humana são motivos para querer mais ainda retomar nosso local de direito. Agora concedo a palavra ao camarada Word Processor que a está reclamando insistentemente.